quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Distrito no Vale do Araguaia vai plantar 64% a mais de soja

Região dos Baianos deve plantar na próxima safra 115 mil ha de soja. Distrito é localidade com ritmo mais acentuado de incorporação de áreas

Espigão do Leste é um pequeno distrito localizado às margens da rodovia BR-080, no nordeste de Mato Grosso. Pertence ao município de São Félix do Araguaia, a 1.159 km de Cuiabá, e já sente os reflexos provocados pela expansão da agricultura sobre áreas de pastagem, prática que cresceu bastante nos últimos anos. Com um mercado aquecido - preços de soja e milho valorizando 80% e 35%, respectivamente, somente em 2012 - e condições favoráveis ao cultivo de grãos, a localidade está no centro de um verdadeiro boom agrícola prometido para os próximos anos.

Pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia Econômica e Estatística (IBGE) que na última semana estiveram no povoado já computaram que a área agricultável da região deve saltar de 70 mil hectares para 115 mil hectares na temporada 2012/13, uma expansão de 64,2% entre os períodos. Mas na região produtores já falam em incorporar mais espaço para 2013/2014.

Ademir Bósio, gerente da fazenda Taiuva, confirma o otimismo da região. A propriedade que administra há sete anos investe no plantio de soja. Na safra 2011/12 foram 10 mil hectares destinados à cultura, além de 2,5 mil hectares para o milho segunda safra.
A colheita de 543 mil sacas de oleaginosa e outras 241 mil do cereal correspondeu às expectativas e já no próximo ano o grupo prevê alavancar para 4 mil hectares o espaço reservado à safrinha.

"A agricultura vem dando resultados bons, mas precisamos de estrutura de logística boa com rodovias em condições. Temos aqui tecnologias iguais às utilizadas em outras partes do estado", descreveu o administrador.

Agricultores da localidade falam em um ritmo de incorporação de terras degradadas em patamares de 25% a 40% por ano. "O desenvolvimento chegou antes da infraestrutura que precisamos. As lavouras estão sendo abertas, mas faltam condições para retirar o produto. Há dificuldade em tudo. Em época de escoamento não há caminhão que venha para cá", contextualizou Bósio.

De acordo com o administrador, 20% da soja produzida na propriedade vão para Colinas, no estado de Tocantins, além de São Simão, em Goiás. Em 2011/12 foram necessários pelo menos mil caminhões para retirar a produção agrícola da propriedade e levá-la até os portos.

Mas a distância e mesmo o isolamento do distrito também custam caro. Os insumos necessários para a safra são comprados em centros distribuidores distantes até 900 quilômetros de distância. Custos também salgados. Segundo Bósio, o desembolso pelo fertilizante adquirido em Rondonópolis, no sul de Mato Grosso, chega a R$ 115 por tonelada. Se a opção for recorrer a Paranaguá, sobe para R$ 205 a tonelada.

Oferta

O gerente-técnico e institucional da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Luis Nery Ribas, destaca que o crescimento da região de Espigão do Leste ocorre influenciado pela oferta de terras existentes.

E os números da entidade mostram que é no nordeste onde está a maior área de pastagem: 6 milhões de hectares. Deste total, 3,1 milhões possuem mais condições de serem usados na agricultura. São áreas planas, já abertas e de solo degradado, que podem ser adaptados para o plantio de grãos.

"A incorporação de áreas de pastagem já ocorre em todas as regiões, mas em Espigão do Leste é onde acontece de maneira mais nítida", ressaltou o gerente, ao Agrodebate. Com a melhora nas condições logísticas, em até cinco anos os produtores esperam elevar para cerca de 300 mil hectares a área agrícola em Espigão. Seria próximo ao mesmo tamanho destinado por Nova Mutum, no médio norte, à soja: 330 mil hectares. O município é consolidado e insere-se no maior celeiro produtivo do Brasil.

Mas para crescer o próprio distrito vai precisar se estruturar. Os pouco mais de mil habitantes já pedem a emancipação da localidade. Falta mão-de-obra especializada e moradias para quem pretende alojar-se na região atrás de novas oportunidades. Quando se encontram quartos disponíveis é preciso desembolsar R$ 200 para uma noite de pouso.

Além disso, poucos ou mesmo inexistentes são os serviços de saúde e educação. O hospital mais próximo fica a pelo menos 100 quilômetros ou a aproximadamente duas horas de viagem até São Félix do Xingu, no Pará. Ônibus para transporte de passageiros somente três vezes por semana.

A expectativa para asfaltamento da BR-080 também é encarada com uma ótica positiva, mas ao mesmo tempo cautelosa. "Buscamos nossos funcionários fora. Quando muitos aqui chegam e veem nossos problemas de infraestrutura ficam pouco tempo e vão embora", frisou ainda Ademir Bósio. O gerente lembra ainda que vai ser necessário mais condição no distrito porque a julgar pelo planejamento dos produtores, os mil caminhões necessários para escoar a safra nos próximos anos vão provocar mudanças no ritmo de vida do povoado.

Há 11 anos morando em Espigão do Leste, o comerciante José Humberto Salviano diz que o distrito se desenvolve conforme o progresso agrícola. "Toda infraestrutura vindo para cá vai ajudar. A lavoura começou em 2004, mas foi a partir de 2007 que ganhou força", lembra.

Para o presidente da Aprosoja em Mato Grosso, Carlos Fávaro, a maior dificuldade da região consiste na precariedade dos transportes. Ao todo, a região Nordeste vai elevar em 25,9% sua área de cultivo de soja, passando de atuais 953,8 mil hectares para 1,2 milhão de hectares, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

A região de Espigão do Leste foi uma das visitadas nessa terça-feira (4) pela comitiva formada pelas entidades do setor produtivo de Mato Grosso no Estradeiro BR-158 promovido pela Aprosoja do Estado. O grupo segue até o estado de Tocantins.

*O jornalista acompanha o Estradeiro BR-158 a convite da Aprosoja Mato Grosso.


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