segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Produção de grãos: alta de 2,6% na safra

Soja em alta permanece como destaque da colheita prevista para este ano. Aumento das áreas plantadas deve encerrar período de crescimento, em decorrência na baixa do preço de commodities


O Brasil deverá registrar uma produção de grãos de 193,47 milhões de toneladas. O volume é aproximadamente 2,6% superior à safra passada, que representa um aumento de 4,81 milhões de toneladas em relação ao mesmo período do ano anterior. O dado é do 11º levantamento de grãos da safra 2013/2014, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na semana passada. O maior destaque foi mais uma vez a cultura de soja, que apresentou um incremento de 5,1% na produção, o equivalente a 4,16 milhões de toneladas.

O total de área destinada ao plantio de grãos deve chegar a 56,85 milhões de hectares, o que significa uma alta de 6,1% se comparado à área de 53,6 milhões de hectares da safra passada. A soja segue com crescimento de 8,7%, passando de 27,7 para 30,1 milhões de hectares. A cultura de trigo também apresentou crescimento expressivo, saindo de 2,2 milhões de hectares para 2,6 mil hectares, um crescimento de 20,7%. Outro produto a ser destacado é o feijão, que apresentou recuperação de área principalmente no Nordeste.

Segundo o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura, Fernando Pimentel, a expansão da área colhida, para 56,2 milhões de hectares é um número bastante positivo, que parece encerrar um ciclo virtuoso de sete anos de boa rentabilidade no campo. Diante dos preços deprimidos para quase todas as culturas anuais de importância econômica, em particular a soja e o milho, “é de se esperar uma redução nesse ritmo de expansão que não deve passar de 3% para 2015”. Para ele, esse número poderá ser ainda menor no ciclo 2015 – 2016, se as safras forem regulares no período.

De acordo com Pimentel, a boa safra americana de soja e milho em fase final vai recompor os estoques internos que norteiam a precificação dessas commodities na Bolsa de Chicago, o que tira o peso sobre a oferta e coloca os compradores, em particular a China, na zona de conforto. “Como ainda temos muita soja e milho no hemisfério Sul, talvez enfrentemos um horizonte de preços baixos pelo período de 12 a 18 meses, até que tenhamos uma recuperação da renda no campo e, consequentemente, estímulos para crescer novamente. Esse cenário para o milho e soja encontra um mercado já deprimido para o café, algodão, laranja e cana, o que deverá impactar o VBP nacional desse ano e do próximo, além de prejudicar a nossa balança comercial”.

A Conab fez a pesquisa entre os dias 20 e 26 de julho. Durante o estudo, foram levantadas informações de área plantada, produção e produtividade média estimada, evolução do desenvolvimento das culturas, pacote tecnológico utilizado pelos produtores, evolução da colheita, entre outras variáveis.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Separação menor de lotes no confinamento otimiza engorda

Manejo racional apresenta pequenos detalhes que podem aumentar o bem-estar do rebanho


Ambiente confortável, manejo tranquilo e sanidade em dia são atributos indispensáveis para impulsionar o gado até o cocho e elevar o consumo. Vários estudos feitos dentro e fora do Brasil já comprovaram que animais calmos ganham mais peso e ainda reduzem o número de lesões, o que evita desperdício para o pecuarista na hora do abate.
  
A norte-americana doutora em zootecnia Temple Grandine é a maior referência em bem-estar animal e afirma ser vantajosa a relação harmoniosa do criador com o gado:

– Animais calmos ganham mais peso. Existem cerca de dez publicações a esse respeito. Animais estressados antes do abate apresentarão cortes mais escuros e carne mais dura. Fora isso, os animais agitados podem machucar as pessoas e machucar a eles próprios e podem ter hematomas, o que tem custado a indústria milhões de dólares por ano, já que essas partes da carne têm que ser cortadas e descartadas.
 
No Brasil, em 1934, já se falava em medidas de respeito e proteção aos animais criados para fins econômicos. Mas, de acordo com a especialista, o conceito ainda não foi totalmente incorporado por quem lida com o gado e ainda há muito a ser feito.
 
– Quando o dono da fazenda ou alguém responsável por fiscalizar está assistindo, o manejo é muito bom. Mas quando a equipe não está sendo supervisionada, ou acha que não está sendo supervisionada, voltam a acontecer os choques e a gritaria. Então um dos grandes problemas é a supervisão.
 
No confinamento Monte Alegre, no município de Barretos (SP), tudo é pensado para criar um ambiente mais calmo e confortável para o gado desde o manejo no curral de processamento até o conforto térmico na área de engorda. A respeito disso, o pecuarista André Luiz Perrone Reis declarou:
 
– Esse bem estar é uma preocupação que temos desde a recepção desses animais: a adaptação desses animais ao cocho, a qualidade do processamento – é algo que fez diferença.

As diferenças ficaram evidentes em uma experiência feita com diferentes tamanhos de lotes dentro dos currais de engorda: por dois anos foram comparados dados de ganho de peso de um lote com 220 animais e outro com 120 animais. Segundo o consultor do confinamento, os animais que estavam em lotes menores tiveram melhor desempenho que os outros do lote maior. 

– Essa diferença foi da ordem de 4 a 6 % de eficiência pior para os animais que ficaram em lotes maiores. Na prática, a gente via mais competição dentro do curral, formação de subgrupos. À tarde tinha muito mais briga, muita competição por alimento; a dificuldade em estabelecer hierarquia também é maior quando o lote é maior, já que os animais ficam mais acomodados em lotes menores – recomendamos abaixo de 130 bois. – afirma Luciano Morgan, zootecnista.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Carne escura precisa ser consumida rápido e tem menos sabor

A peça com maior pH não apresenta riscos ao consumidor, mas para evitá-la é necessário minimizar o estresse do gado antes do abate


Os consumidores costumam rejeitar mais as carnes escuras, ou carnes DFD (escura, firme e seca, em português). A principal causa, segundo pesquisadores, é o estresse do gado antes do abate.

Foi investigado por mais de um ano o motivo da carne com o pH mais elevado, que é o que escurece a peça. Após ouvir especialistas e cadeia produtiva, não há monitoramento no país sobre quantidade de carcaças mais escuras.

Isso tem muito a ver com a imagem da carne brasileira. Somos os maiores exportadores de carne. A cadeia produtiva entende que a divulgação de que há certo percentual de carne com o pH acima pode afetar as exportações do produto. Com isso, não se cria o debate necessário sobre o tema. O monitoramento é muito comum nos Estados Unidos e na Europa. Mas aqui no Brasil, não há dados, somente indicações e estimativas.

Embora o consumo dela não traga riscos à saúde, é uma carne que precisa ser preparada logo, já que o pH elevado ajuda a deteriorar o produto mais rápido e não permite muito tempo de armazenamento, como explica o docente da Unicamp Pedro Eduardo de Felício.

– A carne DFD é um alimento para consumo rápido. Ela resiste, no máximo, uma semana na geladeira. A carne mais clara você pode armazenar até dois meses. A peça escura não oferece nenhum risco à saúde, mas ela deteriora rapidamente. O mais indicado seria para os serviços de refeição, aqueles que servem muitas pessoas, consumo rápido. Ela tem uma deficiência de sabor em relação a uma carne mais clara, mas não é um sabor estranho – explica Felício.

Sobre as causas do gado apresentar carne mais escura, o professor explica que isso está relacionado com fatores sociais do animal. A tendência são os bois não castrados, conhecidos como bois inteiros, serem mais suscetíveis a apresentar a carcaça mais escurecida.

– Pode ser um fator social, quando você reúne animais estranhos uns aos outros. Uma suposição que eu tenho, é sobre a hierarquia dentro do rebanho. Tudo envolve: o estresse na hora do embarque e o estresse climático, por exemplo. São praticamente dois tipos de gado que apresentam esse problema: o macho não castrado e a fêmea no cio, principalmente pela a excitação que passam, acabam mais propensos a um pH mais alto – explica o professor da Unicamp.

O especialista comentou que há possibilidade de não castrar o animal e conseguir cortes mais claros. Entretanto, o animal precisa ser muito manso e o produtor tem que reduzir ao máximo as possibilidades de estresse do gado durante o período pré-abate. Ele sugere que os frigoríficos façam primeiro o abate de bois inteiros, para que eles não sintam tanto a mudança de local.

O diretor técnico da JBS Bassem Sami Akl explicou como essa questão afeta o mercado de carnes. Para ele, é um problema que envolve toda a cadeia produtiva, já que uma carne mais escura tem menor tempo de prateleira e rejeição do consumidor.

– A grande parte de carne escura está relacionada ao manejo do animal. Nós podemos afirmar que isso ocorre na fazenda e no transporte ao frigorifico. O que nos cabe, dentro da indústria, é fazer uma manipulação adequada. Mas é necessário que toda a cadeia produtiva trabalhe para diminuir o estresse do animal. Precisamos reduzir e achar uma destinação melhor para essa carne escura – ressalta Akl.

O representante da JBS também afirma que muitos produtores optam por não castrar o animal por causa do ganho de peso mais fácil que esse tipo de gado tem. Mas, na visão de Bassem Sami Akl, essa questão não pode ser a principal para o produtor não castrar seu rebanho.

– O boi inteiro engorda mais fácil e o produtor prefere isso. Mas o boi castrado é o caminho, precisamos trabalhar na qualidade do nosso produto. Órgãos de pesquisa comprovam que animais inteiros apresentam carne mais escura. O produtor não pode pensar só no ganho de peso – lembra o diretor técnico da JBS.