A obtenção de silagens de qualidade e com reduzidas perdas exige a atenção do produtor em todas as fases do processo de estocagem, seja qual for o tipo de silo, o sistema e a cultura a ser ensilada. Os cuidados incluem o ponto de colheita, a picagem, a compactação e a vedação da forragem.
Lavouras de milho e sorgo ensiladas prematuramente apresentam baixo teor de matéria seca, ou seja, umidade elevada, com reduzidos rendimentos por hectare, porcentual de grãos e fermentação de qualidade inferior. A média é de 15 toneladas a 20 toneladas de forragem verde por hectare, explica Beneval Rosa, professor do setor de Produção Animal da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás.
A colheita tardia, por outro lado, tem alto teor de matéria seca, elevado rendimento por hectare e maior porcentagem de grãos na cultura. A qualidade da silagem, no entanto, adverte Beneval Rosa, pode ser baixa em razão de possíveis perdas no campo, principalmente de folhas, durante o corte e o transporte.
Além disso, aponta o professor, a dificuldade na compactação favorece perdas de armazenamento. Nessas condições, a consequente elevação do teor de fibras da silagem reduz a digestibilidade e dificulta o aproveitamento dos grãos. O ponto de colheita ideal para o milho é o chamado farináceo-duro, fase em que as plantas apresentam aproximadamente 35% de matéria seca. Nesse ponto, a silagem obtém elevado teor nutritivo e palatabilidade, o que pode ser comprovado pelo seu maior consumo, explica Beneval.
O sorgo deve ser colhido quando os grãos estiverem no estágio ceroso-pastoso para farináceo, com 28% a 32% de matéria seca. Os capins, principalmente o elefante, devem ser colhidos com 60 a 70 dias de rebrota, no período das águas, com 20% a 25% de matéria seca. Os capins tanzânia, mombaça e braquiarão devem ser colhidos com 45 a 50 dias de rebrota e as gramas do gênero Cynodom com no máximo 45 dias. O ideal é em torno de 35 dias de rebrota e com menos de 25% de matéria seca.
Picagem
A picagem tem a finalidade de facilitar o acondicionamento e compactação da forrageira dentro do silo e expor os açúcares solúveis existentes na planta para uma rápida fermentação. O tamanho ideal da partícula varia de 4 mm a 22 mm, com média de 11 mm. Quanto mais seca a forragem, explica Beneval Rosa, maior a necessidade do tamanho das partículas estar próximo do ideal para que a compactação possa ser executada com êxito. As partes mais importantes a serem picadas em tamanhos menores são o caule e o sabugo.
Segundo Beneval Rosa, mesmo com a máquina regulada para 2 cm, é comum alguns pedaços de folhas e palhas com 5 cm a 15 cm, o tamanho considerado limite. Estudo realizado na Escola de Veterinária mostrou a necessidade de afiar as facas da ensiladeira pelo menos duas vezes ao dia, mas o recomendável é três vezes ao dia, para assegurar que o tamanho das partículas fique dentro do padrão.
Dimensionamento
Tamanho do silo deve considerar pelo menos 9 variáveis
• Número de animais a serem alimentados, levando-se em consideração o peso inicial e a produtividade que se deseja alcançar (carne e/ou leite);
• Período em que os animais receberão a silagem;
• Quantidade de silagem fornecida por dia, determinada em função do peso do animal, produtividade que se deseja alcançar e potencial produtivo dos animais;
• Espessura de corte diário da silagem em função do contato com o ar atmosférico (mínimo de 10 cm)
• Local para construção e posicionamento em relação às instalações
• Peso médio da silagem por metro cúbico (500 KG a 650 kg/m3)
• Porcentual de perdas, consideradas normais devido aos processos fermentativos e perdas diárias comuns (10% a 20%)
• Tipo de silagem: planta inteira, parte superior, espigas ou grãos úmidos, no caso do milho
• Área a ser plantada depende do rendimento previsto, em função do material utilizado e da tecnologia aplicada.
Jeito certo de compactar o volumoso
A silagem deve ser preparada com a compactação de uma camada por dia, que servirá como vedação para as camadas inferiores. A espessura mínima dessa camada depende do teor de umidade, do tamanho das partículas da forragem ensilada e da atividade de compactação exercida durante a colocação da forragem no silo.
A fermentação da forragem ensilada deve ocorrer na ausência de ar, para que não haja outros tipos de fermentação que prejudicam a conservação. Quanto mais se compacta a forragem, mais ar é retirado do silo, maior é a quantidade de alimento alojado e melhores são a fermentação, o valor nutritivo e o consumo da silagem final.
O processo de enchimento em rampas é o mais rápido e efetivo para a produção e conservação de silagem de qualidade. Para isso, no primeiro dia de enchimento, a forragem deve ser colocada no silo formando uma rampa com a máxima inclinação possível, para permitir a movimentação de trator para a compactação, colocando-se, em seguida, camadas sucessivas, de forma que o silo seja preenchido ao final de 6 a 7 dias.
Vedação e abertura do silo
Porcentuais de matéria seca e proteína bruta variam. A vedação do silo é fundamental para evitar fermentações indesejáveis e descartes obrigatórios de silagem após sua abertura, o que eleva o custo final e reduz a disponibilidade de alimentos para o rebanho. A forragem deve ser coberta com lona plástica e fixada com algum peso. Embora a terra seja muito utilizada para este fim, não é recomendável. Ideal é usar materiais que não contaminem a silagem, como capim seco, bagacinho de cana ou palhas de culturas. "No caso de silos trincheiras, a construção de drenos e cercas é necessária para evitar a penetração de água e a presença de animais”.
Após a preparação, o silo deve permanecer fechado por no mínimo 21 dias, tempo necessário para que ocorram os principais processos de fermentação e a silagem atinja a estabilidade. Decorrido esse período, o silo pode ser aberto e o volumoso consumido.
Também requer atenção momento da retirada da silagem para o fornecimento aos animais. Caso contrário, as perdas de matéria seca também podem ser significativas. Uma vez aberto o silo, a entrada de ar faz com que os micro-organismos que se encontravam em dormência pela anaerobiose (ausência de ar) passem a se multiplicar rapidamente, o que provoca a deterioração da silagem. Este é um processo irreversível explica Beneval Rosa, e manifesta-se, sobretudo, com elevação da temperatura e o aparecimento de fungos na forragem ensilada.
A forragem deve ser retirada em fatias e/ou camadas de no mínimo 20 cm a 30 cm/dia, o que implica correto dimensionamento do silo, a fim de permitir que uma fatia completa seja retirada diariamente. A formação de degraus ou dentes no descarregamento deve ser evitada, pois aumenta a superfície de exposição ao ar e, consequentemente, a degradação aeróbica. Caso seja possível, utilizar máquinas desensiladoras, que promovem a retirada homogênea.
O produtor também deve ter o cuidado de servir a forragem ao animal assim que retirá-la do silo. A remoção deve ser feita sem revolver a massa restante para evitar a penetração de ar, o que torna inadequado o uso de pás carregadeiras.
(matéria retirada de http://www.ruralpecuaria.com.br)
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