Sojicultor rejeita restrições do Ibama e setor vai ao governo
SÃO PAULO - Trocando em sacas, o produtor de soja Carlos Fávaro
gasta duas unidades por hectare para se abastecer, a cada nova safra, de
inseticidas não-seletivos, isto é, capazes de matar qualquer inseto que
se mova em seus 600 hectares em Vera (MT). "Se não aplicar o
inseticida, posso perder de dez a quinze sacas por hectare", justifica
ele.
Indiferente às precauções rurais, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) saiu em defesa das abelhas e publicou, na edição de 19 de julho do Diário Oficial da União, um comunicado que desautoriza, em caráter cautelar, a pulverização aérea dos agrotóxicos que contenham os ingredientes imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil.
"São inseticidas não-seletivos. Matam qualquer inseto", explica o especialista Cléber Gonçalves, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Geralmente aplicados no final do ciclo da soja, entre dezembro e janeiro, estes defensivos agrícolas atacam principalmente as pragas sugadoras, como o percevejo.
A medida do Ibama contrariou tanto sojicultores, que dizem ser ineficiente detetizar a lavoura somente por vias térreas, quanto os fabricantes de agrotóxicos, que se reuniram com o órgão ambiental em Brasília, na semana passada, para analisar e discutir, tecnicamente, o caso.
"Parece que o Brasil insiste em se tornar ineficiente", diz Fávaro, que é o representante máximo da principal entidade de sojicultura do Mato Grosso, o maior estado produtor do grão. "Qual é a diferença, para as abelhas, se a pulverização está sendo feita por terra ou por ar?", questiona - posto que a ação do Ibama não restrinja a aplicação dos inseticidas por meio de tratores.
"Terei que fazer a pulverização tratorizada. Tudo bem. Mas e se chover e os veículos não derem conta?", acrescenta Fávaro.
Os quatro elementos restringidos pelo Ibama estão presentes em cerca de 30 marcas de agrotóxicos, segundo o representante. "Praticamente todas as moléculas utilizadas contra o percevejo estão banidas", ele afirma.
Indústria química
Em nota enviada ao DCI, na sexta-feira, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que reúne as grandes companhias do ramo agrotóxico, nota que "a medida [do Ibama] ainda pode sofrer alterações, que podem gerar inclusive a publicação de um novo edital. Qualquer julgamento emitido será absolutamente prematuro, sem base científica".
Até segunda ordem, o Ibama determina que até meados de novembro todos os fabricantes rotulem os produtos contendo imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil com a mensagem de proibição da pulverização aérea. Além disso, devem provar que a rotulagem foi feita.
O diretor-comercial no Brasil da fabricante multinacional Dow Agrosciences, que não tem patente de nenhuma das moléculas restritas, diz que o tema se tornou o centro das atenções no interior da Andef. "Está-se discutindo os impactos na agricultura e na indústria", conta.
Um executivo da Ihara, empresa também multinacional e sediada (no Brasil) em Sorocaba, pondera: "As abelhas são muito importantes. Mas não é momento de radicalismos. Há uma série de controvérsias. Estamos diante de um impasse".
"A pulverização aérea, se bem controlada, causa impacto menor, porque tem maior eficiência - utiliza-se o agrotóxico em menor escala. Se for usar trator, a eficiência é mais baixa, pois estamos falando de áreas de 120 mil hectares", analisa a fonte, referindo-se às lavouras de soja.
A Ihara também não trabalha com os inseticidas listados pelo Ibama, que considera: "a aplicação de produtos agrotóxicos por via aérea é a prática que pode produzir o cenário de maior deriva e consequentemente o de maior exposição para as populações de abelhas".
Reduto das abelhas
Na região do semiárido do Piauí, onde se concentra boa parte da produção de mel brasileira, os produtores ligados à Casa Apis, uma associação, devem manter um raio de distância de pelo menos três quilômetros de lavouras que utilizam agrotóxicos.
Pelo menos 90% da extração de mel local são orgânicos, mas a Casa Apis não quis comentar o tema.Bruno Cirillo
Indiferente às precauções rurais, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) saiu em defesa das abelhas e publicou, na edição de 19 de julho do Diário Oficial da União, um comunicado que desautoriza, em caráter cautelar, a pulverização aérea dos agrotóxicos que contenham os ingredientes imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil.
"São inseticidas não-seletivos. Matam qualquer inseto", explica o especialista Cléber Gonçalves, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Geralmente aplicados no final do ciclo da soja, entre dezembro e janeiro, estes defensivos agrícolas atacam principalmente as pragas sugadoras, como o percevejo.
A medida do Ibama contrariou tanto sojicultores, que dizem ser ineficiente detetizar a lavoura somente por vias térreas, quanto os fabricantes de agrotóxicos, que se reuniram com o órgão ambiental em Brasília, na semana passada, para analisar e discutir, tecnicamente, o caso.
"Parece que o Brasil insiste em se tornar ineficiente", diz Fávaro, que é o representante máximo da principal entidade de sojicultura do Mato Grosso, o maior estado produtor do grão. "Qual é a diferença, para as abelhas, se a pulverização está sendo feita por terra ou por ar?", questiona - posto que a ação do Ibama não restrinja a aplicação dos inseticidas por meio de tratores.
"Terei que fazer a pulverização tratorizada. Tudo bem. Mas e se chover e os veículos não derem conta?", acrescenta Fávaro.
Os quatro elementos restringidos pelo Ibama estão presentes em cerca de 30 marcas de agrotóxicos, segundo o representante. "Praticamente todas as moléculas utilizadas contra o percevejo estão banidas", ele afirma.
Indústria química
Em nota enviada ao DCI, na sexta-feira, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que reúne as grandes companhias do ramo agrotóxico, nota que "a medida [do Ibama] ainda pode sofrer alterações, que podem gerar inclusive a publicação de um novo edital. Qualquer julgamento emitido será absolutamente prematuro, sem base científica".
Até segunda ordem, o Ibama determina que até meados de novembro todos os fabricantes rotulem os produtos contendo imidacloprido, tiametoxam, clotianidina e fipronil com a mensagem de proibição da pulverização aérea. Além disso, devem provar que a rotulagem foi feita.
O diretor-comercial no Brasil da fabricante multinacional Dow Agrosciences, que não tem patente de nenhuma das moléculas restritas, diz que o tema se tornou o centro das atenções no interior da Andef. "Está-se discutindo os impactos na agricultura e na indústria", conta.
Um executivo da Ihara, empresa também multinacional e sediada (no Brasil) em Sorocaba, pondera: "As abelhas são muito importantes. Mas não é momento de radicalismos. Há uma série de controvérsias. Estamos diante de um impasse".
"A pulverização aérea, se bem controlada, causa impacto menor, porque tem maior eficiência - utiliza-se o agrotóxico em menor escala. Se for usar trator, a eficiência é mais baixa, pois estamos falando de áreas de 120 mil hectares", analisa a fonte, referindo-se às lavouras de soja.
A Ihara também não trabalha com os inseticidas listados pelo Ibama, que considera: "a aplicação de produtos agrotóxicos por via aérea é a prática que pode produzir o cenário de maior deriva e consequentemente o de maior exposição para as populações de abelhas".
Reduto das abelhas
Na região do semiárido do Piauí, onde se concentra boa parte da produção de mel brasileira, os produtores ligados à Casa Apis, uma associação, devem manter um raio de distância de pelo menos três quilômetros de lavouras que utilizam agrotóxicos.
Pelo menos 90% da extração de mel local são orgânicos, mas a Casa Apis não quis comentar o tema.Bruno Cirillo
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